O ego pode apropriar-se de qualquer exposição verbal ou simbólica, por mais rigorosa, perfeita ou bem concebida. A sua infinita capacidade de metamorfose pode tomar a forma até do suposto ensinamento que o pretende eliminar. Daí a necessidade de abandonar o barco que nos tenha conduzido à outra margem. Por mais sólido e útil que tenha sido durante a travessia, uma vez alcançada a outra margem, não faz sentido carregar o barco às costas. Quando caminhamos em terra firme, o barco torna-se um estorvo e uma carga inútil! Que utilidade pode ter um mapa uma vez que já vimos claramente o tesouro? Continuar a interpretar, aperfeiçoar, completar ou idolatrar o mapa só pode resultar num esforço inútil e num inútil dispêndio de energia.
Sempre que uma compreensão se cristaliza num conceito mental com o qual eu procuro conformar a minha vida, de acordo com o qual eu procuro agir e adaptar a minha ação, então o ego modificou-se para poder sobreviver. Se uma compreensão, experiência ou ensinamento espiritual, por mais elevado que seja, resulta numa aquisição (sabedoria, crença,doutrina, ensinamento, etc.), então o ego ressurge sob nova roupagem. A libertação só é real quando aquilo que se perde não é substituído por mais elevada, sublime ou lucrativa que pareça a substituição e por mais sagrado que seja o objeto substituto. A renuncia e o desapego tem que ser absoluto e incondicional. A melhor coisa não é melhor do que nada, diz a sabedoria Zen. Por mais forte que seja a atração pela certeza e segurança, este impulso ou desejo, é o principal e mais sutil sustento do ego.
Sempre que uma crença é substituída por outra, não importa se falsa ou verdadeira, então o ego encontrou uma nova forma de apoio e sustento. O importante é o abandono de toda a crença, de todo o desejo de segurança. Trata-se de abraçar a insegurança e a incerteza, ou antes, de não lhes procurar fugir. De permanecer no silêncio e no vazio! Só então é possível contatar com uma dimensão que nada tem a ver com as formulações do intelecto nem com as maquinações ilusórias da mente. Só então a ação acontece desde uma percepção lúcida e directa da realidade. O impulso à segurança é muito forte e subtil. É a principal origem e sustento do ego e necessita vigilância constante. Porque o ego de tudo pode colher alimento, inclusive dos ensinamentos do mais santo, do mais sábio e bem intencionado guru ou profeta. Na presença do ego, qualquer céu se pode converter num inferno, na sua ausência tudo é invadido pela paz, pelo paraíso e bem aventurança.
Observa a forma que tem a tua resposta a este momento presente. Como lhe correspondes? Tomas como pressuposto que existe a forma correta, adequada, perfeita de responder ao desafio? Possuis armazenada ao nível conceptual uma formula ou receita que agora procuras aplicar? A tua ação é comandada, dirigida por uma ideia elaborada, uma verbalização, um conceito que armazenaste devido ao teu desejo de perfeição? A tua ação tem a proteção e mediação de uma ideia não importando o rigor ou a santidade da sua proveniência? Ou pelo contrário, te permites apresentar perante o desafio de uma forma completamente desarmada e vulnerável, quer dizer, de uma forma nua, direta, completamente despida e desprotegida? Se a tua busca e aprendizagem resultou numa fórmula e se cristalizou num conceito na base do qual procuras atuar, então permaneces cego e invulnerável à realidade. Porque a realidade deste momento presente é o desconhecido. E o desconhecido não pode ser captado por qualquer conceito. Só o podes contactar se a tua mente, os teus conceitos não se interpuserem. Se não o procuras enformar dentro das tuas crenças e conhecimentos. Apenas a consciência, quer dizer, o amor, pode receber a realidade. E o amor significa na verdade a tua ausência. Só quando tu não estás é que a verdade pode brilhar!
Observa a forma que tem a tua resposta a este momento presente. Como lhe correspondes? Tomas como pressuposto que existe a forma correta, adequada, perfeita de responder ao desafio? Possuis armazenada ao nível conceptual uma formula ou receita que agora procuras aplicar? A tua ação é comandada, dirigida por uma ideia elaborada, uma verbalização, um conceito que armazenaste devido ao teu desejo de perfeição? A tua ação tem a proteção e mediação de uma ideia não importando o rigor ou a santidade da sua proveniência? Ou pelo contrário, te permites apresentar perante o desafio de uma forma completamente desarmada e vulnerável, quer dizer, de uma forma nua, direta, completamente despida e desprotegida? Se a tua busca e aprendizagem resultou numa fórmula e se cristalizou num conceito na base do qual procuras atuar, então permaneces cego e invulnerável à realidade. Porque a realidade deste momento presente é o desconhecido. E o desconhecido não pode ser captado por qualquer conceito. Só o podes contactar se a tua mente, os teus conceitos não se interpuserem. Se não o procuras enformar dentro das tuas crenças e conhecimentos. Apenas a consciência, quer dizer, o amor, pode receber a realidade. E o amor significa na verdade a tua ausência. Só quando tu não estás é que a verdade pode brilhar!
Pedro Fonseca
www.jardimdepicuro.blogspot.com
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