sábado, 20 de abril de 2013

O Estado Natural

Ramana nos diz que a única diferença entre a experiência do jnani (com o que ele se refere ao ser desperto) e a experiência do ajnani (nome que se dá àquele que ainda acredita estar preso à ignorância) é que o jnani não acredita em nada disso. Só isso! E, é claro, este negócio de acreditar ou não acreditar não pode ser fabricado, por mais que você tente acreditar no que lhe dizem que deveria acreditar, e não acreditar no que lhe dizem que não deveria acreditar. Esse "não acreditar" é o estado natural que está sempre presente quando a atenção repousa no ser; ele é simplesmente o seu estado natural.

Ramana também fala sobre o ego, a manifestação e o espetáculo de horror que fazem parte da vida espiritual, e se refere a eles como miragens. Você percebe que uma miragem é diferente de uma alucinação ou uma ilusão. Na prática espiritual, pensamos que essas coisas são ilusões: o mundo é uma ilusão. E, portanto, com base em nossa experiência e entendimento limitados desses assuntos, concluímos que todas essas coisas desaparecerão, uma vez que a mente tenha despertado para si mesma, e que o despertar tenha se estabilizado.

Isso é bastante desconcertante. Tente imaginar um estado no qual o corpo se desloca, faz as coisas que faz, fala e se comunica, em meio a um branco absoluto, no qual a ilusão da existência desapareceu. Isto é desconcertante! E essa idéia causa um sofrimento considerável, com a tentativa constante de imitar, criar e fabricar um semelhante estado.

Uma miragem é diferente e muito mais próxima da realidade. Mesmo quando você sabe que é uma miragem, esta não desaparece. O mundo não precisa desaparecer, mesmo quando visto com clareza, diretamente, inegavelmente pelo que ele é: simplesmente pensamento, apenas imaginação. Tudo isso é para o seu prazer! O mundo simplesmente não faz nada, não afeta nada. Nada está em jogo aqui. O pesar pode ser ainda maior, mais profundo e mais rico, na ausência de uma história a seu respeito, quando não se acredita que algo está em jogo. Mas ninguém é prejudicado por ele; ninguém se torna incapacitado por causa dele; não é preciso acabar com ele.

Tudo isso que descrevo inadequadamente é o seu estado natural. É disso que Ramana fala: sahaja samadhi ou estado natural. Este é o seu estado natural de ser. E ele não passa a existir em algum ponto no tempo; ele simplesmente se revela quando sua atenção está voltada para o seu próprio ser, e não para o pesar, a confusão, para aquilo que você sabe, ou para a paz.

Quando a sua atenção está em seu ser, este estado natural das coisas revela-se como algo que sempre esteve aqui! E percebemos que as estratégias utilizadas previamente para fugir a ele são mecânicas e muito pouco interessantes. Na verdade, elas perdem completamente o interesse; são como brinquedos de dar corda. Elas são tão pouco interessantes, que você nem se importa se elas desapareceram ou se vão desaparecer algum dia.

John Sherman (o negrito é do blog)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Vazio Cheio

E o vazio não é um vazio frio, escuro e... vazio - mas um vazio rico, cheio e vivo, impregnado com infinitas possibilidades, saturado com... esta intimidade incompreensível que deveria, sem dúvida, ser impossível - e ainda assim, inegavelmente, é.

Nada não é "nada", não é a ausência das coisas, mas também a presença delas - portanto, nada é realmente tudo... de modo que tudo termina não em niilismo, mas em deslumbramento, em fascinação, no tipo de gratidão que parte o seu coração repetidamente.

Sim, tudo que resta é uma simplicidade crítica, que não pode ser ensinada, não pode ser formulada, transformada em algo concreto, sistematizada e, ao fim ao cabo, não pode nem mesmo ser nomeada - mas ainda assim, é tudo que existe, e tudo que sempre existiu, e tudo que é necessário ser, porque somente uma mente separada poderia querer mais.


Jeff Foster

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Mesmo Agora, Diferente, Sempre

Chega um ponto em que você precisa parar de mentalmente construir objetos e desenvolver relações com os mesmos. Grande parte da sua atenção, da sua energia, está voltada às relações com os objetos. A mente está o tempo todo lidando com isso, esse, aquilo, aquele… Tudo o que ocorre à lente dos sentidos.

Viver a Consciência que você é, ser você, é ver que os objetos e, consequentemente, as relações são ilusórias. Tudo aquilo que você (pensa que) sabe não passa de flores no ar.

Eu aponto para qualquer objeto nessa sala e pergunto "O que é isso?" e a mente imediatamente tem um nome, uma história e uma relação desenvolvida para com este objeto. "Isso é uma cadeira. Esta cadeira é branca. Herdei uma cadeira igual a esta da minha bisavó e tenho muito apreço por ela". E, logo, a cadeira te leva à tua bisavó, que te leva a mais mil histórias…

Lá se foi mais uma chance de penetrar no mistério do agora, no não-saber. Já pensou como seria o mundo se você pudesse olhar para tudo ao seu redor, sempre, como se fosse a primeira vez? Porque assim o é, mas o condicionamento da mente nos rouba essa realização.

Suspenda o impulso de "saber" a respeito das coisas e relacionar-se com tudo através desse falso-saber. Isso abre um imenso espaço entre você e aquilo que você percebe – e esse espaço promove enorme descanso. Esse espaço deve ser aplicado, inclusive, em relação a este objeto "corpo" que é considerado pela sua mente como sendo você.

Esteja atento às relações propostas entre qualquer objeto – inclusive o corpo e a mente – e aquilo que percebe os objetos. Aquilo que percebe tem por habilidade apenas o testemunhar, sem nenhuma necessidade de envolvimento. Aquilo que percebe está antes do nome, antes da forma, antes da memória e além de qualquer história que possa ser contada.

Satyaprem