segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Tatagata

"...Vemos nossa carne e identificamo-nos com nosso corpo. Se alguém diz que nosso corpo não é bonito, ficamos com o complexo de não sermos bonitos. Nosso humor varia e nós nos identificamos com estes sentimentos. Quando estamos tristes dizemos 'Estou triste'. Quando estamos felizes dizemos 'Estou feliz'. Mas nossa verdadeira pessoa não é essas coisas nem algo que está fora delas.

Nós temos nossa verdadeira pessoa, mas não vivemos com nossa verdadeira pessoa, não reconhecemos nossa verdadeira pessoa. Nós só vivemos com as coisas que tomamos por nossa verdadeira pessoa. Vivemos a vida inteira nessa ignorância, pensando que nossos sentimentos e nossa carne são a soma total da nossa verdadeira pessoa. Nossa verdadeira pessoa não está dentro nem fora, não é iludida pelo nascimento e pela morte, por vir e ir, por ter ou não ter, pelo que fazemos ou não fazemos. Quer joguemos xadrez, fiquemos na cama o dia todo ou meditemos a noite inteira, esta não é nossa verdadeira pessoa.

Não podemos encontrar nossa verdadeira pessoa mediante o intelecto ou o raciocínio. Sobre esta pilha de carne vermelha há uma verdadeira pessoa. Quem quer que não tenha visto esta verdadeira pessoa, olhe atentamente. Viva conscientemente. Nossa verdadeira pessoa é nosso próprio Buda milagroso, presente em nossa maravilhosa relação com todas as coisas. Nosso Buda não é nossas cinco skandas, as cinco coisas que compõem um ser humano: forma, sentimentos, percepções, formações mentais e consciência; estas não são a nossa verdadeira pessoa. Nós somos as nuvens, o céu, todos os nossos ancestrais e descendentes. Nossa verdadeira pessoa é uma maravilha. E quando podemos ver isto, nós estamos bem. Ainda temos nossos altos e baixos, mas não nos identificamos com eles, sabemos que somos mais do que isto. Nosso grande êxito é percebermos nossa verdadeira pessoa..."

Thich Nhat Hanh
Trecho de "Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum" - Editora Vozes

Nota: na tradição budista, Tatagata é aquele que vem de lugar nenhum e vai para lugar nenhum. É um nome que o Buda Gautama usava ao referir-se a si mesmo. É o nosso Ser mais profundo e verdadeiro

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Torna-te Totalmente vazio!

Torna-te totalmente vazio.
Permite que o teu coração esteja em paz.
Na torrente das idas e vindas mundanas,
vejo os finais tornarem-se inícios.

As coisas florescem, uma a uma,
apenas para voltarem à Origem.
Ao que se é e ao que será.

Regressar à raiz é encontrar a paz.
Encontrar a paz é realizar o destino.
Realizar o destino é ser constante.

Conhecer a constante chama-se visão.
Não conhecer este ciclo
conduz ao desastre eterno.

Conhecer a constante confere perspectiva.
Essa perspectiva é imparcial.
A imparcialidade constitui a
mais elevada nobreza;
a mais elevada nobreza é o Divino.

Sendo Divino, serás uno com o Tao.
Ser uno com o Tao é o eterno.
Este caminho dura para sempre,
não sendo ameaçado pela morte física.

Tao Te Ching
Verso 16

terça-feira, 16 de julho de 2013

A Cada Momento

A cada momento, o Ser Supremo,
a magia e a beleza do Real, começa a abrir sua flor no interior do nosso ser. Mas os medos e as projeções nascidas da ignorância e da identidade limitada com o corpo, a mente e a personalidade ficam no caminho dessa abertura completa. Uma voz aparece do nada e diz: "Eu não posso me dar ao luxo de viver assim. Eu não posso lidar com uma compreensão tão intensa. É muito poderoso. Se eu acolher isso, eu poderia ficar tão radicalmente transformado que a minha vida iria tornar-se incontrolável e imprevisível. Eu poderia tornar-me demasiado inocente para me proteger. Eu não estou pronto para ser vulnerável. Quem, na verdade, é que está resistindo a tal desdobramento da graça? Saiba que é apenas uma auto-imagem e não o seu ser real.
Mooji - 16 de julho de 2013

sábado, 13 de julho de 2013

Sobre o Domingo, o Tempo e o Mundo Bizarro das Interpretações

Como seria a nossa percepção do tempo se os dias da semana não tivessem nomes? Você já se deu conta de que o domingo só é domingo porque alguém, de maneira mera e puramente convencional, resolveu lhe dar esse nome, ou, em outras palavras, resolveu lhe atribuir um significado? Você se dá conta de que, em algum momento, o domingo devia não se chamar domingo, assim como a segunda-feira não tinha esse nome e o respectivo significado? Como explicar, então, o mal que acomete as pessoas que têm a chamada "depressão de domingo" que, inclusive, já é reconhecida como uma doença pela ciência? E se essas pessoas dormissem por dias a fio, a ponto de perder a noção de tempo, e acordassem em pleno domingo, sem que ninguém lhes dissesse que era domingo? Será que, ainda assim, elas teriam "depressão de domingo"? Você se dá conta de que, neste caso, o que deprime essas pessoas não é o dia de domingo em si, mas sim, um nome totalmente convencional, que se conecta a um significado totalmente convencional?

Note o quanto os nomes e suas respectivas significações se interpõem entre você e a sua percepção da realidade! E, por fim, perceba que toda a sua vida se passa dentro de uma intrincada rede de nomes que, por sua vez, acionam uma complexa hierarquia de significados!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Investigue!

Esteja certo de que toda e qualquer pessoa está exatamente onde deveria estar, no estado em que deveria estar, com o fardo e a cruz que deveria ter! E por mais dramática que possa parecer a situação, isto, na verdade, não é nada mais do que parte da brincadeira, da divina dança!! É apenas a consciência criando uma condição que faça o ego sucumbir, a fim de que ela possa se redescobrir.

O que parece dramático e assustador só o é porque você ainda percebe a realidade a partir de uma intrincada, complexa e envolvente teia de conceitos, significados e nomes. Esta é a ação que a mente exerce sobre a sua real natureza: obscurecer, distorcer e colorir o real! Essa é a ilusão.

Mas, quando for a hora certa, esta teia se desvanece, fazendo com que você volte ao seu lugar original, que se situa antes do pensado, antes do nominado, antes do idealizado.

Veja, investigue e perceba a enorme fragilidade de tudo o que você sempre considerou natural, indiscutível, elementar e absolutamente consistente! Não se apegue a nenhuma crença, absolutamente nenhuma, porque todas as crenças e filosofias ocorrem e são possíveis apenas no nível do pensamento e a realidade existe antes disto. E você nunca esteve fora deste lugar.