sábado, 29 de junho de 2013

Uma Entidade Não Pode Alcançar a Iluminação!

Um grupo de três pessoas estava visitando Maharaj pela primeira vez. Embora padecendo na cama e extremamente fraco, Maharaj lhes perguntou se tinham alguma pergunta a fazer.

Eles conversaram entre si e decidiram fazer apenas uma pergunta: “Maharaj, todos nós fizemos certa Sadhana por algum tempo, mas o progresso não parece adequado. O que devemos fazer?”
Maharaj disse que o propósito de qualquer esforço é obter algo, algum benefício que não se possui.

“O que é isto que tentam atingir?” A resposta foi rápida e positiva: “Nós queremos ser como você – iluminados.”

Maharaj riu e se empertigou na cama. Quando estava mais confortável com dois travesseiros para apoiar suas costas, ele continuou: “É nisto que a idéia errada está enraizada: em pensar que vocês são entidades que devem alcançar algo para que possam se tornar como a entidade que vocês pensam que eu sou! Este é o pensamento que constitui a ‘escravidão’, a identificação com uma entidade – e nada, absolutamente nada, exceto a desidentificação causará a ‘liberação’.

Como eu disse, vocês vêem a si mesmos e a mim como entidades, entidades separadas; eu vejo vocês exatamente como me vejo. Vocês são o que eu sou, mas vocês se identificaram com o que pensam ser – um objeto – e buscam a liberação para este objeto. Não é uma enorme piada? Poderia algum objeto ter existência independente e vontade de agir? Poderia um objeto estar escravizado? E liberado?”

O interlocutor juntou suas mãos em namaskar e, muito respeitosamente, sugeriu que o que Maharaj tinha dito não poderia talvez ser questionado como um ideal teórico, mas que, certamente, disse ele, ainda que as pessoas possam ser entidades fictícias, nada mais que meras aparições na consciência, como viveríamos no mundo a menos que aceitássemos as diferentes entidades como suficientemente ‘reais’ na vida?

Esta discussão pareceu animar extraordinariamente o Maharaj, e a debilidade em sua voz desapareceu gradualmente. Ele disse:

“Você vê quão sutil é este assunto? Você respondeu sua própria pergunta, mas a resposta lhe escapou. O que você disse é que você sabe que a entidade como tal é totalmente fictícia e não tem autonomia própria; é apenas um conceito. Mas a entidade fictícia deve viver sua vida normal. Onde está o problema? É muito difícil viver uma vida normal, sabendo que a vida em si é um conceito? Você compreendeu? Uma vez que tenha visto o falso como falso, uma vez que tenha visto a natureza dual do que chama ‘vida’ – que na realidade é viver – o restante será simples; tão simples como um ator desempenhando seu papel com entusiasmo, sabendo que é apenas um papel que ele está desempenhando em uma peça ou um filme, e nada mais.

Reconhecer este fato com convicção, apercebendo-se desta posição, é toda a verdade. O resto é mera atuação.”

De: "Sinais do Absoluto"

Emprestado do blog: www.editoraadvaita.blogspot.com

domingo, 23 de junho de 2013

Você é NADA!

Você é nada! Você sempre foi nada, coisa nenhuma!

É um elogio quando lhe digo isso, não um insulto. Sempre que alguém lhe disser que você é nada, diga muito obrigado. Seja grato a quem lhe disse isso.

Como provar isso para si mesmo? Vivendo neste momento.

Neste momento, não há absolutamente nada acontecendo. Neste momento, em que tudo está calmo, sereno e harmonioso. Mas, assim que você começa a pensar, você estraga a coisa toda.

Assim que você permite que a mente decole e faça alarde com todos os pensamentos, idéias e conceitos você é um ser humano novamente.

Portanto, a prática que você aprende é manter-se silencioso,
para tornar a mente quieta, não causando qualquer conflito.

Robert Adams

Trecho de "The True Teacher Is Within", 1.º de novembro de 1992.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Aquele que É!

“A contemplação é a penetração repentina e intuitiva daquilo que realmente É; o salto inesperado do espírito de uma pessoa para dentro da luminosidade existencial da Realidade em si mesma, não só pela intuição metafísica do ser, mas pela plenitude transcendente de uma comunhão existencial com Aquele que É.”
Thomas Merton - trecho de "The New Man"

Abaixo do Condicionamento


"Todo pensamento obviamente é condicionado. Não existe tal coisa como pensamento livre. Pensar não pode ser livre! É resultado de nosso condicionamento, nosso substrato, nossa cultura, nosso clima, de nosso substrato social, econômico e político.

Os próprios livros que você lê e as próprias práticas que faz são todas estabelecidas no substrato e qualquer pensar deve ser resultado desse substrato. 

Assim, se pudermos estar conscientes e pudermos presentemente ver o que significa, o que quer dizer "estar consciente", talvez sejamos capazes de descondicionar a mente sem o processo da vontade, sem a determinação de não condicionar a mente. 

Porque no momento em que você determina, há uma entidade que quer, uma entidade que diz “Eu devo não condicionar minha mente”. Essa entidade em si é o resultado de nosso desejo de conseguir certo resultado e assim já existe um conflito aí. 

Então, é possível estar consciente de nosso condicionamento, apenas estar consciente? Nisso não há absolutamente conflito. Essa própria consciência, se permitida, pode talvez consumir os problemas."

J. Krishnamurti - trecho de "The Book of Life"

terça-feira, 18 de junho de 2013

Aquilo que Nunca Foi Perdido

O que nunca foi perdido não pode ser encontrado!

A sua própria procura por segurança e alegria o(a) mantém longe de ambos. Pare de procurar, pare de
perder.

A doença é simples e a solução igualmente simples. É apenas a sua mente que faz você inseguro e infeliz. A antecipação faz você inseguro, a memória faz você infeliz.

Pare de abusar da sua mente e tudo ficará bem com você. Você não precisa configurá-la ou ajustá-la, ela se acomodará sozinha, assim que você desistir de toda a preocupação com o passado e o futuro e passar a viver inteiramente no agora!


Nisargadatta Maharaj

quarta-feira, 12 de junho de 2013

That's the Choice!

Você tem essa escolha novamente!

Para perceber que o mundo é um sonho, para deixar tudo sozinho, para estar em paz consigo mesmo e estar em paz com os outros, e apenas observar o mundo sem reagir a ele.

Ou você pode ficar completa e inteiramente envolvido neste mundo, totalmente envolvido no mundo, tentando fazer as coisas acontecerem, tentando tornar-se popular, tornar-se bom, mau, passar por todos os tipos de experiências e sempre lutando pela sobrevivência.

Esta é a escolha! Esta é a escolha que você tem. Esta é a escolha que você tem que fazer. O que você vai fazer?

Robert Adams

You have this choice again.

To realize the world is a dream, to leave everything alone, to be at peace with yourself, and to be at peace with others, and just observe the world without reacting to it.

Or you can get completely and fully involved in this world, totally involved in the world, trying to make things happen, trying to make yourself popular, make yourself good, bad, go through all kinds of experiences, and always fighting for survival.

This is the choice you've got. This is the choice you have. This is the choice that you have to work with. What will you do with it?

Robert Adams

Nota: Robert Adams é americano e foi um dos mais importantes discípulos ocidentais de Ramana Maharshi

domingo, 9 de junho de 2013

O Zen e o Nada!

"...então, se você for em frente e verificar, se debruçar sobre o fato de como você se sente ante a perspectiva de desaparecer para sempre. Todos os seus esforços, todas as suas realizações e todas as suas expectativas simplesmente sumindo, virando poeira! Como você se sente? O que acontece?

É uma coisa curiosa, mas, se você examinar, o estado mais real, mais sem esforço, é o estado de vazio! O estado de nada! É isso que tudo se tornará! E por uma razão ou outra, nós fomos ensinados a temer este estado. A considerá-lo deprimente.

Mas se alguém argumentar que a realidade básica não é a não-existência, então, de onde vem tudo isso? Obviamente, da não existência! Então, alegre-se!! É isso o que os ensinamentos do Buddha querem dizer quando afirmam que, na verdade, nós somos basicamente nada!

A essência da sua consciência, tal como ela é por detrás dos seus olhos, é intrinsecamente pura*! Mas puro, não no sentido "não-sujo", como normalmente se interpreta a palavra pureza! Puro no sentido de claro! Vazio!

Você conhece a história de quando o sexto Patriarca do Zen decidiu escolher seu sucessor? Houve um concurso de poesia e o perdedor escreveu um poema que sugeria que a mente é como um espelho que precisa ser polido! Que a mente precisa ser permanentemente polida para que a poeira não se assente. Para que permaneça limpa.

Mas o ganhador escreveu um poema que dizia mais ou menos o seguinte: não há espelho algum, e a natureza da consciência é intrinsecamente vazia! Onde a poeira poderia se assentar, então?

Ao ver que o vazio é a realidade fundamental, que ele é a sua realidade, como, então, alguma coisa pode lhe afetar? Como ela pode contaminá-lo?

Toda e qualquer ideia sobre você assustado, apreensivo, sacrificado. Tudo isso é apenas isso: uma ideia! Porque você é realmente nada!

Mas eu não estou falando de um nada qualquer! Você é o nada mais incrível! Se você concebe este "nada" como ausência de existência e isso lhe deixa apreensivo e amargurado, então, você não entendeu!

Este nada, este vazio, ele é como o vazio do espaço, que contém todo o universo! O Sol, a Lua, as estrelas, as montanhas, os rios, os homens bons e os homens maus. Os animais! Tudo, todos estão contidos no vazio. Então, este vazio é de onde tudo surge, e você é ele!

Então, o que eu estou mostrando é que toda essa tolice sobre o medo da não-existência é que, falando a verdade, nós nos referimos à não existência quando falamos de espiritualidade. Mas você ignora, rejeita e desdenha desta não existência! Você diz: Oh! Não existência! Credo! Que os céus nos protejam disto!

Mas, aí é que está o segredo da existência! E, obviamente, o segredo sempre está onde nós nunca pensamos em procurar."

Alan Watts

Tradução livre do autor do blog

* No Zen, a palavra "pureza" não deve ser compreendida com o mesmo sentido que lhe é dado nas tradições religiosas ocidentais, isto é, no sentido de uma pureza pessoal, de um "tornar-se purificado"! Para o Zen, em específico para a escola Rinzai, também conhecida como "Escola do Sul", originada a partir do Sétimo Patriarca, chamado Hui Neng, a pureza tem um sentido muito mais existencial. Ao invés de apontar para um "eu melhorado", uma versão aprimorada e beatificada da pessoa, ela aponta para o fim da pessoa, para a própria transcendência do eu psicológico. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Reconheça o Falso!

..Pergunta: Uma vez que tenha decidido encontrar a Realidade, o que farei depois?

Mararaj: Depende de seu temperamento. Se você for sério, qualquer caminho que escolher o levará a sua meta. É a seriedade o fator decisivo.

P: E o que me amadurecerá? Necessito de experiência?

M: Você já teve toda a experiência de que necessita. Você não precisa acumular mais, em vez disto você deverá ir além da experiência. Qualquer esforço que fizer, qualquer método que seguir, meramente gerará mais experiência, mas não o levará além. Nem a leitura de livros o ajudará. Eles enriquecerão sua mente, mas a pessoa que você é permanecerá intacta. Se esperar qualquer benefício de sua busca material, mental ou espiritual, você errará o alvo. A verdade não dá nenhuma vantagem. Não lhe dá um status mais elevado, nenhum poder sobre os outros; tudo o que você obtém é a verdade e a liberdade do falso.

P: Seguramente, a verdade me dará o poder para ajudar outros.

M: Isto é mera imaginação, de qualquer forma nobre! Na verdade, você não ajuda outros porque não há outros. Você divide as pessoas em nobres e ignóbeis e você pede ao nobre que ajude o ignóbil. Você separa, avalia, julga e condena – em nome da verdade você a destrói. Seu próprio desejo de formular a verdade a nega, porque ela não pode ser contida em palavras. A verdade só pode ser expressa pela negação do falso – em ação. Para isto você deve ver o falso como falso e rejeitá-lo. A renúncia do falso é libertadora e dá energia. Abre o caminho para a perfeição.

P: Quando saberei que descobri a verdade?

M: Quando a ideia “isto é verdadeiro”, “aquilo é verdadeiro”, não surgir. A verdade não afirma a si mesma, ela está na visão do falso como falso e em rejeitá-lo. É inútil buscar a verdade quando a mente estiver cega ao falso. Deverá ser purificada completamente do falso antes que a verdade possa despontar em você.

P: Mas o que é falso?

M: Certamente, o que não tem nenhum ser é falso.

P: O que você quer dizer por não ter nenhum ser? O falso existe, duro como um prego.

M: O que se contradiz não tem ser. Ou só o tem momentaneamente, o que vêm a ser o mesmo. Pois o que não tem um princípio e um fim não tem nenhum meio. É um oco. Só tem um nome e uma forma dados pela mente, mas não tem nem substância nem essência.

P: Se tudo que passar não tem ser, então o universo não terá nenhum ser tampouco.

M: Quem o negou? Certamente, o universo não tem ser.

P: O que tem?

M: Aquilo que não depende de nada para sua existência, que não surge quando surge o universo nem se põe quando o universo se põe, que não necessita de qualquer prova, mas dá realidade a tudo que toca. A natureza do falso é parecer real por um momento. Pode-se dizer que a verdade torna-se o pai do falso. Mas o falso está limitado no tempo e no espaço e é produzido pelas circunstâncias.

P: Como me liberto do falso e obtenho o real?

M: Com que propósito?

P: Para viver uma vida melhor, mais satisfatória, integrada e feliz.

M: O que quer que seja concebido pela mente deve ser falso, pois é obrigado a ser relativo e limitado. O real é inconcebível e não pode ser aparelhado para um propósito. Deve ser desejado por si mesmo.

P: Como posso querer o inconcebível?

M: O que mais é digno de desejo? Concordo, o real não pode ser desejado como uma coisa é desejada. Mas você pode ver o irreal como irreal e descartá-lo. É o descarte do falso que abre o caminho para o verdadeiro.

P: Entendo, mas como se parece na vida diária atual?

M: O interesse próprio e o egocentrismo são os pontos focais do falso. Sua vida diária vibra entre o desejo e o medo. Observe-a atentamente e verá como a mente assume inumeráveis nomes e formas, como um rio espumante entre as pedras. Siga o motivo egoísta em cada ação e olhe-o atentamente até que se dissolva.

P: Para viver se deve cuidar de si mesmo, deve-se ganhar dinheiro para si mesmo.

M: Não necessita ganhá-lo para si mesmo, mas pode ter que ganhá-lo para uma esposa ou um filho. Pode ser que deva seguir trabalhando para os outros. Mesmo só manter-se vivo pode ser um sacrifício. Não há nenhuma necessidade de ser egoísta. Descarte todo motivo egoísta logo que o veja e não necessitará buscar a verdade; a verdade o encontrará.

P: Há um mínimo de necessidades.

M: Não foram satisfeitas desde que você foi concebido? Abandone a escravidão do egoísmo e seja o que é – inteligência e amor em ação.

P: Mas se deve sobreviver!

M: Você não pode contribuir para a sobrevivência! Seu ser real é eterno e está além do nascimento e da morte. E o corpo sobreviverá enquanto for necessário. Não é importante uma vida longa. Uma vida plena é melhor que uma longa vida.

P: Quem vai dizer que é uma vida plena? Depende de meu fundo cultural.

M: Se você buscar a realidade, deverá se libertar de todos os antecedentes, de todas as culturas, de todos os padrões de pensamento e sentimento. Mesmo a ideia de ser um homem ou uma mulher, ou mesmo humano, deve ser descartada. O oceano da vida contém tudo, não apenas os humanos. Assim, em primeiro lugar abandone a auto-identificação, pare de pensar de si mesmo como assim e assado, esse e aquele, isto ou aquilo.

Abandone todo interesse próprio, não se preocupe com seu bem-estar, material ou espiritual, abandone todo desejo grosseiro ou sutil, deixe de pensar em avanços de qualquer tipo. Você é completo aqui e agora, não necessita absolutamente de nada. Isto não quer dizer que deva ser tolo e imprudente, imprevidente ou indiferente; apenas a ansiedade básica por si mesmo deve cessar. Você necessita algum alimento, roupa e abrigo para você e para os seus, mas este desejo não cria problemas enquanto a ambição não passar por necessidade. Viva em sintonia com as coisas como elas são e não como são imaginadas.

P: O que sou eu se não um ser humano?

M: Aquilo que o faz pensar que você é humano não é humano. Não é senão um ponto de consciência sem dimensão, um nada consciente; tudo o que pode dizer sobre si mesmo é: “eu sou”. Você é puro ser – Consciência – bem-aventurança. Compreenda que este é o fim de toda busca. Você chega a ele quando vir que tudo o que pensa sobre si mesmo é mera imaginação, é permanecer distante, na pura consciência do transitório como transitório, do imaginário como imaginário, do irreal como irreal. Isto não é de forma alguma difícil, mas o desapego é necessário. É o apego ao falso que faz tão difícil a visão do verdadeiro. Uma vez que entenda que o falso precisa de tempo e que necessitar de tempo é falso, você estará mais próximo da Realidade, a qual é eterna, sempre no agora. A eternidade no tempo é mera repetição, como o movimento de um relógio. Flui do passado para o futuro interminavelmente, uma perpetuidade vazia. A Realidade é que faz o presente tão vivo, tão diferente do passado e do futuro, os quais são meramente mentais. Se você precisar de tempo para alcançar algo, deverá ser falso. O real está sempre com você; não precisa esperar para ser o que você é. Apenas não deve permitir que sua mente saia de você mesmo na busca. Quando quiser algo, pergunte a si mesmo: realmente necessito disto? E, se a resposta for não, então meramente o abandone.

P: Não devo ser feliz? Posso não necessitar de algo, mas se puder me fazer feliz não deverei pegá-lo?

M: Nada pode lhe fazer feliz mais do que é. Toda busca de felicidade é miséria e leva a mais miséria. A única felicidade digna do nome é a felicidade natural de ser consciente.

P: Quer dizer que devo abandonar toda ideia de uma vida ativa?

M: Não, de forma alguma. Haverá casamento, filhos, ganhar dinheiro para manter a família; tudo isto acontecerá no curso natural dos eventos porque o destino deve cumprir-se; você passará por isto sem resistência, confrontando as tarefas como vierem – interessada e completamente –, nas pequenas e grandes coisas. Mas a atitude geral será de carinhoso desapego, enorme boa vontade, sem esperar retorno, dando constantemente sem nada pedir. No casamento, você não é nem o marido nem a esposa; você é o amor entre os dois. Você é a clareza e a bondade que tornam tudo ordenado e feliz. Pode parecer vago para você, mas, se pensar um pouco, descobrirá que o místico é o mais prático, pois faz com que sua vida seja criativamente feliz. Sua consciência é elevada a uma dimensão superior, da qual se vê tudo muito mais claramente e com maior intensidade. Você compreenderá que a pessoa que você se tornou no nascimento, e que cessará de ser na morte, é temporária e falsa. Você não é a pessoa sensual, emocional e intelectual, oprimida por desejos e temores. Descubra seu ser real. O “que sou eu?” é a questão fundamental de toda filosofia e psicologia. Vá profundamente para dentro dela.

Nisargadatta Maharaj - Do livro "Eu Sou Aquilo"
Trecho retirado do Blog "O Todo é UM"

Nota: é muito comum que, ao se deparar com textos do advaita vedanta e do zen, o leitor ocidental sinta-se desconcertado, assustado e até indignado ante a afirmação crua - recorrente nestas sabedorias - de que a realidade material não passa de uma ilusão. É falsa.

É importante esclarecer que, nestes escritos, as palavras "ilusão" e "falso" não têm a conotação usualmente empregada no ocidente. Assim, por exemplo, "ilusão" não deve ser entendida no sentido de uma ilusão de ótica, uma espécie de miragem, mas, no sentido de impermanente, passageiro, instável, etc. Da mesma forma, o "falso", nestes textos, é utilizado para indicar algo - crenças, conceitos, idéias, etc - que foi adquirido e assimilado de maneira indiscutida, não examinada, não verificada. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Verdade!


"Conhecei a verdade e a verdade vos libertará!"



Que verdade é esta? E do quê ela nos libertará?

Não se contente com o que lhe disseram! Não se contente em simplesmente crer!
Examine! Constate! Verifique!

terça-feira, 4 de junho de 2013

Ação e Idéia

Uma das atividades mais tiranicas da manutenção do ego consiste em converter a experiência em ideias que proporcionem segurança na ação. Qualquer experiência, por mais nobre e autentica que tenha sido, é atraiçoada quando a procuras cristalizar numa ideia. É egoísmo procurar agir em conformidade com o amor e altruísmo Se procuras ser consistente com uma ideia de liberdade, então não és livre, és escravo. Não podes ser livre se a tua ação se processa em obediência a uma ideia. Na liberdade não está presente a obediência ou conformidade. A liberdade é ausência de ideia. A ação livre é sempre espontânea! A ideia gera uma separação entre aquilo que tu és e aquilo que procuras aparentar. A ideia é qualquer coisa de alheio àquilo que de forma mais autentica tu és. Um peixe não tem que atuar como um peixe para ser um peixe. Se há uma imagem em conformidade com a qual procuras atuar, então existe uma separação e negação daquilo que és!

O ego pode apropriar-se de qualquer exposição verbal ou simbólica, por mais rigorosa, perfeita ou bem concebida. A sua infinita capacidade de metamorfose pode tomar a forma até do suposto ensinamento que o pretende eliminar. Daí a necessidade de abandonar o barco que nos tenha conduzido à outra margem. Por mais sólido e útil que tenha sido durante a travessia, uma vez alcançada a outra margem, não faz sentido carregar o barco às costas. Quando caminhamos em terra firme, o barco torna-se um estorvo e uma carga inútil! Que utilidade pode ter um mapa uma vez que já vimos claramente o tesouro? Continuar a interpretar, aperfeiçoar, completar ou idolatrar o mapa só pode resultar num esforço inútil e num inútil dispêndio de energia.

Sempre que uma compreensão se cristaliza num conceito mental com o qual eu procuro conformar a minha vida, de acordo com o qual eu procuro agir e adaptar a minha ação, então o ego modificou-se para poder sobreviver. Se uma compreensão, experiência ou ensinamento espiritual, por mais elevado que seja, resulta numa aquisição (sabedoria, crença,doutrina, ensinamento, etc.), então o ego ressurge sob nova roupagem. A libertação só é real quando aquilo que se perde não é substituído por mais elevada, sublime ou lucrativa que pareça a substituição e por mais sagrado que seja o objeto substituto. A renuncia e o desapego tem que ser absoluto e incondicional. A melhor coisa não é melhor do que nada, diz a sabedoria Zen. Por mais forte que seja a atração pela certeza e segurança, este impulso ou desejo, é o principal e mais sutil sustento do ego. 

Sempre que uma crença é substituída por outra, não importa se falsa ou verdadeira, então o ego encontrou uma nova forma de apoio e sustento. O importante é o abandono de toda a crença, de todo o desejo de segurança. Trata-se de abraçar a insegurança e a incerteza, ou antes, de não lhes procurar fugir. De permanecer no silêncio e no vazio! Só então é possível contatar com uma dimensão que nada tem a ver com as formulações do intelecto nem com as maquinações ilusórias da mente. Só então a ação acontece desde uma percepção lúcida e directa da realidade. O impulso à segurança é muito forte e subtil. É a principal origem e sustento do ego e necessita vigilância constante. Porque o ego de tudo pode colher alimento, inclusive dos ensinamentos do mais santo, do mais sábio e bem intencionado guru ou profeta. Na presença do ego, qualquer céu se pode converter num inferno, na sua ausência tudo é invadido pela paz, pelo paraíso e bem aventurança.

Observa a forma que tem a tua resposta a este momento presente. Como lhe correspondes? Tomas como pressuposto que existe a forma correta, adequada, perfeita de responder ao desafio? Possuis armazenada ao nível conceptual uma formula ou receita que agora procuras aplicar? A tua ação é comandada, dirigida por uma ideia elaborada, uma verbalização, um conceito que armazenaste devido ao teu desejo de perfeição? A tua ação tem a proteção e mediação de uma ideia não importando o rigor ou a santidade da sua proveniência? Ou pelo contrário, te permites apresentar perante o desafio de uma forma completamente desarmada e vulnerável, quer dizer, de uma forma nua, direta, completamente despida e desprotegida? Se a tua busca e aprendizagem resultou numa fórmula e se cristalizou num conceito na base do qual procuras atuar, então permaneces cego e invulnerável à realidade. Porque a realidade deste momento presente é o desconhecido. E o desconhecido não pode ser captado por qualquer conceito. Só o podes contactar se a tua mente, os teus conceitos não se interpuserem. Se não o procuras enformar dentro das tuas crenças e conhecimentos. Apenas a consciência, quer dizer, o amor, pode receber a realidade. E o amor significa na verdade a tua ausência. Só quando tu não estás é que a verdade pode brilhar!

Pedro Fonseca

www.jardimdepicuro.blogspot.com

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Consciência

A consciência é a única porção de você que é permanentemente presente, contínua, nunca sujeita a falhas e intervalos! No gaps! Entretanto, por ela lhe ser tão íntima e familiar, você perdeu a capacidade de percebê-la! É para isto, para esta auto-percepção, para a capacidade de dar-se conta desta consciência que todas as abordagens espirituais - o zen, o vedanta, o tao, a kabbalah e o próprio cristianismo (original e não corrompido) - apontam há milênios!

É a esta perda da capacidade humana de ser e estar consciente da consciência que, metafórica e alegoricamente, a Bíblia se refere quando fala da saída de Adão do Paraíso! É a ela que, com alguma atenção, percebe-se que Jesus se refere no novo testamento.

Mas, a perda da capacidade de perceber a consciência, de perceber-se consciente, por si, não fez com que ela deixasse de estar presente e atuar! Ela nunca deixou de nos prover com o nosso senso de existência!

E, ao contrário do que parece, ela não está situada na sua cabeça! Esta impressão se deve apenas ao fato de que, na sua esmagadora maioria, as pessoas confundem consciência com percepção sensorial. E, como a quase totalidade dos orgãos sensoriais está localizada na cabeça, nasceu este equívoco! Na verdade, a consciência é não local! Ela é suprema, é o substrato de toda e qualquer experiência! Ela é o pano de fundo que permite a cognição! Ela é a sua mais essencial essência!!

Dê-se conta desta consciência, que é você, de verdade, e constate que, sendo "o que" percebe, ela é necessariamente maior do que tudo o que é percebido! Este é o fim do sofrimento, o salto, o portão estreito que leva à salvação, como dizia Jesus!

sábado, 1 de junho de 2013

O Cristianismo e a Não-Dualidade II

"Desconfie sempre que alguém criar uma distância entre você e Deus e, prontamente, se oferecer como intermediário"

Estas sábias palavras de Nisargadatta Maharaj, um dos mais claros e expressivos mestres do vedanta, refletem a postura franca e deliberadamente adotada pela igreja ocidental quanto à natureza da relação existente entre o homem e deus: deus lá, você cá e eu no meio. É a dualidade na sua melhor expressão!

Mas, não foi sempre assim! Desde tempos remotos, inúmeros cristãos, muitos deles oficialmente vinculados à igreja, rebelaram-se contra esta visão dualista - e comercialmente muito inteligente e oportuna - oficialmente professada pela igreja secular e, em franca oposição à religiosidade dogmática, lançaram mão da livre investigação e do exame pessoal para, a partir da experiência direta, constatar a existência da não-dualidade claramente apontada nos ensinamentos originariamente professados pelo Cristo.

Pode-se mencionar muitos destes místicos cristãos: São João da Cruz, Santa Tereza de Ávila, São Gregório de Nissa, São Francisco de Assis, etc. Mas, entre eles todos, nenhum se referiu tão claramente à percepção direta de Deus quanto Mestre Eckhart. Nas suas tentativas de descrever o inefável, ele (involuntariamente, é claro!) praticamente reproduz e repete relatos, descrições e diretrizes existentes nas escrituras do Vedanta e nos pouquíssimos registros escritos do Zen.

Abaixo, a transcrição de dois trechos de suas obras (grifos e destaques do autor):

"Mudei-me portanto em Deus e Ele me fez um consigo, e assim, pelo Deus vivo, não há distinção entre nós... Algumas pessoas imaginam que vão ver Deus, que verão Deus como se Ele estivesse além e elas ali, mas não é assim. Deus e eu: somos um. Conhecendo Deus, tomo-o para mim. Amando a Deus, penetro-o"

"O princípio não tem outra razão que o fim, pois no fim último repousa tudo que jamais foi dotado de razão. O fim último do ser são as trevas ou o não conhecimento da divindade escondida, onde a luz ilumina .... Aquele que é sem nome, que é a negação de todos os nomes, e jamais teve um nome. .... No fundo da alma, o Fundo de Deus e o fundo da alma sendo senão um só e mesmo fundo. Quão mais Te procuramos, menos Te encontramos. Tu deverás procurá-lo de forma que jamais o encontre; se tu não o procurares, encontrá-lo-á."

É claro que não só Mestre Eckhart, mas, todos os demais místicos cristãos foram perseguidos pela Igreja. Entretanto, felizmente, muito dos registros deixados por eles sobre a experiência direta de Deus sobrevieram até os dias atuais, para mostrar que, na sua essência, na sua mais perfeita consonância com os ensinamentos originários do Cristo, o Cristianismo aponta diretamente para a mesma direção do Vedanta, do Zen e do Tao: para a não-dualidade! Para o fato de que a suposta separação entre Deus e o homem é apenas conceitual e imaginada. Não é mais que uma ilusão (mahamaya) que, graciosa e puerilmente, se perpetua devido a uma espécie de loop da mente!

Caso você queira mais posts que apontem para a incrível semelhança do cristianismo com o Vedanta e o Zen, escreva!