sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Uma Singela Introdução ao Vedanta

"O Vedanta declara que nossa verdadeira natureza é divina: pura, perfeita, eternamente livre. Não temos de nos tornar Brahman, isto já somos. Nosso Ser genuíno, o Atman, é um com Brahman.

Porém, se nossa autêntica natureza é divina, por que então nos encontramos tão espantosamente ignorantes dela? A resposta a esta questão jaz no conceito de maya, ou ignorância. Maya é o véu que encobre nossa real natureza e a real natureza do mundo a nossa volta. Maya é, fundamentalmente, inescrutável: não sabemos por que ela existe e desconhecemos quando principiou. O que sabemos de fato é que, como toda outra forma de ignorância, maya cessa de existir com o despertar do conhecimento, o conhecimento de nossa própria essência divina.

Brahman é a verdade genuína de nossa existência: n’Ele vivemos, nos movemos e n’Ele existimos. “Tudo isto é, em verdade, Brahman”, nos ensinam os Upanishads, as escrituras que formam a filosofia Vedanta. O mundo variável que observamos a nossa volta pode ser comparado às imagens móveis em uma tela de cinema: sem aquela invariável tela como fundo, não poderia haver nenhum cinema. De modo semelhante é aquele imodificável Brahman, o substrato da existência, que, como pano de fundo para este mundo cambiável, confere a ele sua realidade.

Mesmo assim, para nós, esta realidade se acha condicionada, como um espelho recurvo, pelos conceitos de tempo, espaço e causalidade, constituindo a lei de causa e efeito. Nossa visão da realidade se encontra ainda mais obscurecida por uma identificação equivocada: identificamo-nos com o corpo, a mente e o ego, mais que com o Atman, o Ser divino.

Este equívoco hereditário gera ainda mais ignorância e sofrimento, como um efeito dominó: ao nos identificarmos com o corpo e a mente, receamos enfermidade, velhice e morte; identificando-nos com o ego, sofremos com a ira, ódio e centenas de outras misérias. Ainda assim, nada disso afeta nossa verdadeira essência, o Atman.

Maya pode ser comparada àquelas nuvens que encobrem o sol: ele permanece no alto do céu, mas densas nuvens o escondem e nos impedem de vê-lo. Quando as nuvens se dispersam, tornamo-nos conscientes de que o sol ali esteve sempre. (...)

Shankara, o grande sábio da Índia no sétimo século, se utilizava do exemplo da corda e da serpente para ilustrar o conceito de maya. Caminhando por uma estrada escura, um homem vê uma serpente: seu coração se alarma, seu pulso se acelera. Porém, ao observar mais de perto, a “serpente” se transforma em um pedaço de corda enrolada. Uma vez que a ilusão se desfaz, a cobra desaparece para sempre.

Similarmente, caminhando pela estrada escura da ignorância, vemos a nós mesmos como criaturas mortais e, ao redor, o universo de nome e forma, condicionado por tempo, espaço e causalidade. Tomamos consciência de nossas limitações, ligaduras e sofrimentos. Porém, em uma observação mais atenta, tanto a criatura mortal quanto o universo, se revelam como Brahman. Uma vez que a ilusão se desfaz, nossa mortalidade, tanto quanto o universo, desaparece para sempre. Vemos apenas a Brahman existindo em toda parte e em tudo.

Do livro "Vedanta: a Simple Introduction"

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