sábado, 1 de junho de 2013

O Cristianismo e a Não-Dualidade II

"Desconfie sempre que alguém criar uma distância entre você e Deus e, prontamente, se oferecer como intermediário"

Estas sábias palavras de Nisargadatta Maharaj, um dos mais claros e expressivos mestres do vedanta, refletem a postura franca e deliberadamente adotada pela igreja ocidental quanto à natureza da relação existente entre o homem e deus: deus lá, você cá e eu no meio. É a dualidade na sua melhor expressão!

Mas, não foi sempre assim! Desde tempos remotos, inúmeros cristãos, muitos deles oficialmente vinculados à igreja, rebelaram-se contra esta visão dualista - e comercialmente muito inteligente e oportuna - oficialmente professada pela igreja secular e, em franca oposição à religiosidade dogmática, lançaram mão da livre investigação e do exame pessoal para, a partir da experiência direta, constatar a existência da não-dualidade claramente apontada nos ensinamentos originariamente professados pelo Cristo.

Pode-se mencionar muitos destes místicos cristãos: São João da Cruz, Santa Tereza de Ávila, São Gregório de Nissa, São Francisco de Assis, etc. Mas, entre eles todos, nenhum se referiu tão claramente à percepção direta de Deus quanto Mestre Eckhart. Nas suas tentativas de descrever o inefável, ele (involuntariamente, é claro!) praticamente reproduz e repete relatos, descrições e diretrizes existentes nas escrituras do Vedanta e nos pouquíssimos registros escritos do Zen.

Abaixo, a transcrição de dois trechos de suas obras (grifos e destaques do autor):

"Mudei-me portanto em Deus e Ele me fez um consigo, e assim, pelo Deus vivo, não há distinção entre nós... Algumas pessoas imaginam que vão ver Deus, que verão Deus como se Ele estivesse além e elas ali, mas não é assim. Deus e eu: somos um. Conhecendo Deus, tomo-o para mim. Amando a Deus, penetro-o"

"O princípio não tem outra razão que o fim, pois no fim último repousa tudo que jamais foi dotado de razão. O fim último do ser são as trevas ou o não conhecimento da divindade escondida, onde a luz ilumina .... Aquele que é sem nome, que é a negação de todos os nomes, e jamais teve um nome. .... No fundo da alma, o Fundo de Deus e o fundo da alma sendo senão um só e mesmo fundo. Quão mais Te procuramos, menos Te encontramos. Tu deverás procurá-lo de forma que jamais o encontre; se tu não o procurares, encontrá-lo-á."

É claro que não só Mestre Eckhart, mas, todos os demais místicos cristãos foram perseguidos pela Igreja. Entretanto, felizmente, muito dos registros deixados por eles sobre a experiência direta de Deus sobrevieram até os dias atuais, para mostrar que, na sua essência, na sua mais perfeita consonância com os ensinamentos originários do Cristo, o Cristianismo aponta diretamente para a mesma direção do Vedanta, do Zen e do Tao: para a não-dualidade! Para o fato de que a suposta separação entre Deus e o homem é apenas conceitual e imaginada. Não é mais que uma ilusão (mahamaya) que, graciosa e puerilmente, se perpetua devido a uma espécie de loop da mente!

Caso você queira mais posts que apontem para a incrível semelhança do cristianismo com o Vedanta e o Zen, escreva!

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