domingo, 9 de junho de 2013

O Zen e o Nada!

"...então, se você for em frente e verificar, se debruçar sobre o fato de como você se sente ante a perspectiva de desaparecer para sempre. Todos os seus esforços, todas as suas realizações e todas as suas expectativas simplesmente sumindo, virando poeira! Como você se sente? O que acontece?

É uma coisa curiosa, mas, se você examinar, o estado mais real, mais sem esforço, é o estado de vazio! O estado de nada! É isso que tudo se tornará! E por uma razão ou outra, nós fomos ensinados a temer este estado. A considerá-lo deprimente.

Mas se alguém argumentar que a realidade básica não é a não-existência, então, de onde vem tudo isso? Obviamente, da não existência! Então, alegre-se!! É isso o que os ensinamentos do Buddha querem dizer quando afirmam que, na verdade, nós somos basicamente nada!

A essência da sua consciência, tal como ela é por detrás dos seus olhos, é intrinsecamente pura*! Mas puro, não no sentido "não-sujo", como normalmente se interpreta a palavra pureza! Puro no sentido de claro! Vazio!

Você conhece a história de quando o sexto Patriarca do Zen decidiu escolher seu sucessor? Houve um concurso de poesia e o perdedor escreveu um poema que sugeria que a mente é como um espelho que precisa ser polido! Que a mente precisa ser permanentemente polida para que a poeira não se assente. Para que permaneça limpa.

Mas o ganhador escreveu um poema que dizia mais ou menos o seguinte: não há espelho algum, e a natureza da consciência é intrinsecamente vazia! Onde a poeira poderia se assentar, então?

Ao ver que o vazio é a realidade fundamental, que ele é a sua realidade, como, então, alguma coisa pode lhe afetar? Como ela pode contaminá-lo?

Toda e qualquer ideia sobre você assustado, apreensivo, sacrificado. Tudo isso é apenas isso: uma ideia! Porque você é realmente nada!

Mas eu não estou falando de um nada qualquer! Você é o nada mais incrível! Se você concebe este "nada" como ausência de existência e isso lhe deixa apreensivo e amargurado, então, você não entendeu!

Este nada, este vazio, ele é como o vazio do espaço, que contém todo o universo! O Sol, a Lua, as estrelas, as montanhas, os rios, os homens bons e os homens maus. Os animais! Tudo, todos estão contidos no vazio. Então, este vazio é de onde tudo surge, e você é ele!

Então, o que eu estou mostrando é que toda essa tolice sobre o medo da não-existência é que, falando a verdade, nós nos referimos à não existência quando falamos de espiritualidade. Mas você ignora, rejeita e desdenha desta não existência! Você diz: Oh! Não existência! Credo! Que os céus nos protejam disto!

Mas, aí é que está o segredo da existência! E, obviamente, o segredo sempre está onde nós nunca pensamos em procurar."

Alan Watts

Tradução livre do autor do blog

* No Zen, a palavra "pureza" não deve ser compreendida com o mesmo sentido que lhe é dado nas tradições religiosas ocidentais, isto é, no sentido de uma pureza pessoal, de um "tornar-se purificado"! Para o Zen, em específico para a escola Rinzai, também conhecida como "Escola do Sul", originada a partir do Sétimo Patriarca, chamado Hui Neng, a pureza tem um sentido muito mais existencial. Ao invés de apontar para um "eu melhorado", uma versão aprimorada e beatificada da pessoa, ela aponta para o fim da pessoa, para a própria transcendência do eu psicológico. 

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